Pedro Charters d´Azevedo
A galeria de exposições temporárias da Albuquerque e Lima tem patente uma exposição de pintura de Pedro Charters d´Azevedo.
Artista visual português, Pedro Charters d’Azevedo nasceu em 1946, em Lisboa. Vem de uma família com raízes em Cortes e Leiria, embora tenha sido criado em Lisboa pelos pais, ambos naturais da zona de Leiria.
Estudou no Liceu Camões e passou pela Sociedade Nacional de Belas-Artes onde frequentou o curso de pintura que não concluiu. A sua formação artística é essencialmente autodidacta.
Desde sempre mostrou tendência para as artes como muitos dos seus familiares (Avó e Bisavó paternas, Avô materno e Primo - João Charters de Almeida).
O seu percurso artístico iniciou-se cedo e foi-se desenvolvendo aos poucos ao longo dos anos, sem nunca ter sido concretizado plenamente por necessidades financeiras. Tal só foi possível quando, por acaso, o trabalho que exercia deixou de existir, os filhos começaram a sair de casa e a reforma chegou.
Desde 1999 que se dedica inteiramente à sua arte, pintura, desenho e escultura. Autor de qualidade já amplamente reconhecida, tem até hoje algumas dezenas de participações em exposições e está representado em inúmeras colecções particulares e em alguns espaços públicos e museológicos nomeadamente na Casa Barbosa du Bocage em Setúbal.
Expôs individual e colectivamente em galerias, feiras, bibliotecas, espaços culturais e museus de Lisboa, Porto, Paris, Gembloux - Bélgica, Madrid, Beja, Leiria, Ponte de Sôr, Mértola, Estremoz, Figueira da Foz, Coimbra, Setúbal, Vöcklabruck – Österreich e Brasil entre outros.
A sua produção artística começa por um figurativo quase perfeccionista (que mantém no caso de retrato – efectuou o retrato do Cardeal Patriarca de Lisboa, recentemente falecido, que se encontra no Patriarcado em Lisboa) e posteriormente passou do figurativismo das primeiras obras a um processo mais contemporâneo no qual aborda a pintura através da exploração das qualidades expressivas e plásticas das suas texturas. Estes trabalhos, de carácter abstratizante, onde as referências ao mundo real estão extremamente diluídas, exploram o tema da mancha, da textura das cores pastel e da plasticidade.
Na série agora patente na Albuquerque e Lima, que o autor intitula “Dançando com o Lixo”, são utilizadas várias matérias e diversas texturas que sobrepostas ou colocadas lado a lado sobre a tela sugerem um motivo representativo de uma hipotética dança. O autor utiliza materiais reciclados ou intencionalmente recuperados do lixo, situando-se no terreno de uma pintura que assenta na fusão da figura com as estridentes manchas de cor e a volumetria das colagens. Ainda que em todos os quadros se descortinem elementos figurativos de vultos que dançam, é na desconstrução do plano, na exuberância cromática e nas texturas, numa prática salutarmente "selvática", que encontramos os equivalentes pictóricos da rotura intencional com o formalismo da pintura mais clássica.
Ao abrigar no espaço do quadro elementos retirados da realidade - pedaços de jornal, restos de cartão e papéis de todo o tipo, tecido, areia, palha, malha de aço e outros restos - a pintura do autor passa a ser concebida nesta série como uma construção saliente sobre o plano da tela, dificultando neste caso concreto o estabelecimento de fronteiras rígidas entre a pintura e a escultura.
Tal opção texturizante do plano pictórico poderá desencadear no espectador um misto de identificação e de distanciamento ocasionado pelo experimentalismo da pintura exposta na sua liberdade criativa mais intrínseca. Apesar do risco assumido pelo autor, a proposta é do ponto de vista artístico totalmente conseguida através da qualidade e do bom gosto das soluções cromáticas adoptadas e da adequada mistura dos elementos texturais em confronto.
A exposição poderá ser visitada na Rua de Gil Vicente 86A, das 16 ás 20 horas, de segunda a sexta feira, até 5 de Junho de 2014.
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